Honka em Honkanak

Honkanak é uma criação longínqua do mundo de Honka, uma personagem que encarnei e por quem me deixei apaixonar.

sábado, outubro 28, 2006

Liberalização da morte não liberta a vida


Não consigo deixar de me sentir revoltada quando penso em toda a problemática da liberalização do aborto, que nestes próximos tempos vai voltar a ser tema de discussão pública e objecto de novo referendo popular.
Está tudo a postos para reanimar a máquina legislativa cuja função principal está em elaborar leis que protejam os direitos e o melhor interesse do povo que elegeu democraticamente os seus líderes.
Terei tempo e paciência para juntar todos os argumentos a nível jurídico que me ajudem a contrariar este projecto. Por enquanto preciso de mostrar a minha indignação face ao cerne do que considero ser o verdadeiro problema político-social-ético-moral que se apresenta. O que verdadeiramente está a ser posto em mesa de negociação, de julgamento e de reflexão é, nada mais nada menos, do que a VIDA. Uma palavra pequena, apenas quatro letras que tanto tem custado decifrar por entre outros termos que parecem ser actores principais desta discussão, o aborto, ou, alguns podem pensar que se torne "politicamente correcto" denominar: interrupção voluntária da gravidez (IVT, tem direito a siglas e tudo...até faz lembrar HIV assim de repente...mas já estou a divagar, retomo o meu raciocínio...).
Muitas vezes a gravidez é indesejada ou inesperada. A mulher nasce com uma sexualidade definida a que corresponde um sistema reprodutor que permite a geração de vida dentro de si uma vez recebida a semente masculina. Nem sempre a mulher está pronta, física ou psicologicamente para desempenhar o seu papel reprodutor. Nem sempre a mulher está pronta a iniciar a sua vida sexual por esses mesmos motivos ou outros. A verdade é que a mulher depara-se muito cedo com o termo de responsabilidade, muito antes de desejá-lo ou preparar-se para tal.
Iniciar a vida sexual (diferente de sexualidade que é algo que nos acompanha desde o segundo em que somos verdadeiramente concebidos com a união da informação das células reprodutoras feminina e masculina) é sobretudo iniciar uma experiência de auto-conhecimento e conhecimento do outra. Ocorrem, porém, transformações no corpo da mulher que lhe permitem formar óvulos prontos a ser fecundados, a mulher torna-se terreno fértil em todos os sentidos "tudo o que é semeado pode dar frutos um dia".
O que me levou a escrever sobre este assunto hoje, agora, foi a necessidade, repito, de expressar a minha indignação perante uma posição com a qual sou obrigada, pelos meus princípio e valores, a discordar e criticar sem piedade.
Tolerância e relativismo são conceitos que se podem confundir e o relativismo leva-nos, em alguns casos, a uma tolerância leviana e infundamentada. O relativismo leva-nos a ser tolerantes em conformidade com circunstâncias que se impõem aos valores absolutos pelos quais nos regemos. É, portanto, perigoso ser-se tolerante, falar de tolerância ou mesmo pensar-se em tolerância, porque há aquela tendência para relativizar quando não estamos seguros de quais serão as nossas verdades. É difícil para o ser humano aceitar uma verdade sem questioná-la. Facilmente compreendemos lados opostos de uma mesma realidade e conseguimos arranjar argumentos contrários àqueles que defendemos por justa causa. Compreender significa concordar? Quais os limites da tolerância?
Para conseguir definir uma posição clara e determinada em relação ao debate aceso sobre a liberalização do aborto tive de começar pelo princípio: descodificar. Foi como tirar todas as interferências de um canal para poder ter a imagem tal qual deve ser.
A questão do aborto não é na sua essência política, jurídica, social ou religiosa, embora influencie e seja influenciada ciclicamente por todas estas esferas. É acima de tudo uma questão humana e portanto tão complexa quanto o Homem. Envolve sobretudo o que distingue o Homem de qualquer outro ser vivo: a moralidade, a consciência que tem vindo a ser acompanhada e estudada dando forma a uma ética em construção de um ser coerente para consigo e para com a sociedade em que vive.
Independentemente de todas as divergências e da incoerência presentes nas relações humanas, há algo incontestável e comum a todos nós: a vida. Estamos vivos, uns mais que outros, melhor ou pior, há mais ou menos tempo! Todos os dias temos um objectivo em comum: sobreviver. Quer admitamos ou não, a nossa maior preocupação é manter esta vida, mantermo-nos nesta forma de ser e de estar, a forma humana.
Aprendemos a valorizar a vida e a sua fragilidade, protegendo-a contra as adversidades com que nos deparamos diariamente. O desafio nem sempre é feito em iguais proporções nem as lutas são sempre disputadas pelos mesmos motivos ou com as mesmas forças. Contudo, todo o dia lutamos para sobreviver, e assim tem sido desde o momento em que existimos. Perguntam: existimos desde quando? Sem aquela célula que se formou no útero das nossas mães não seríamos nada, é a partir daí que nos desenvolvemos, a célula existe e hoje somos nós.

A vida é a razão de viver, isto é, vivemos cada dia para vivermos o dia seguinte e os próximos. A vida é uma oportunidade única e insubstituível. A vida apenas é substituída pela morte, e a morte é o nada, a inexistência.
É inegável, estamos vivos. Somos completamente impotentes na nossa própria criação, fomos criados, foi-nos dado um dom: o de vivermos. que protegemos com todas as nossas forças e capacidades como o bem mais valioso que temos.
O valor da vida não é questionável, se o fosse poderíamos não estar aqui hoje. Quando as futuras mães se questionam sobre seguir uma gravidez ou interrompê-la estão a relativizar o valor da vida, a questionar a existência de outro ser vivo. O que acaba por acontecer é que, insconcientemente estão a relativizar o valor da sua própria vida pondo mesmo em risco a sua integridade e significado.
A nossa identidade nem sempre aceita alterações ou ajustes por causa de uma gravidez não planeada, mas incrivelmente o significado que a vida tem, como valor maior que todos os outros, altera-se e ajusta-se aos nossos medos e receios, egoísmo e desespero.
Hoje recebi um KitVida, nada mais nada menos do que uma "arma" de argumentos a favor da vida e do apoio a todas as mulheres que tenham dificuldades e precisem de ajuda. KitVida, faz lembrar o Kit que os toxicodependente vão buscar às farmácias... os olharem prendem-se criticamente quando saem da farmácia porque sabemos que com aquele kit vão em direcção ao seu vício, fazer o que têm de fazer.
Hoje recebi o meu kit, o kit da Vida, e muitos vão olhar de lado e não vão perceber porque me dou ao trabalho, porque discuto, debato,me esforço e sofro por uma causa. Mas afinal, que sentido posso dar à minha vida se retirar o sentido da vida dos outros? É preciso, é urgente, é prioritário defender vidas com VIDA.
A liberalização da morte não vai libertar a vida. Uma mulher que abdica de uma vida que carrega dentro de si está a abdicar de uma parte significativa do significado que tem a sua.
Dá que pensar a sorte que tivemos de ninguém questionar imperativamente o nosso direito à vida. Quem somos nós para decidir a morte de um bebé (sim, o aborto)? Somos a vida, e a vida diz NÂO à morte e SIM à VIDA! Sem medos... a vida é um risco que vale a pena experimentar. É para todos.

sexta-feira, outubro 27, 2006