Tocar piano

Gostava de saber tocar piano, alguma vez tentei? Por acaso já passei as minhas mãos pelas teclas mas nunca me esforçei por conseguir que daí saísse algum dos sons que tanto me arrepiam. Acho que nem é só o piano, são todos os instrumentos, ou quase todos porque excluo clarinetes! E quantas vezes me apetece cantar e engulo a boca seca... Sinto cada vez mais que gostava de esticar a corda do tempo e ter tempo para cada pequenina coisa que deixo de fazer sem saber porque dou prioridade a tantas outras coisas que não me suscitam sentimentos tão bons como o das sensações.
É ao ouvir música, ao olhar para as cores, para as pessoas, ao ler aquilo que me dá um entusiasmo de formigas cá dentro que penso no que ando a fazer com o meu tempo. Fico com sérias dúvidas se estou a gastar tempo, ou melhor, a usar um tempo como se pudesse simplesmente ser gasto. E com isto se passam dias, semanas e anos, até quando gastar se depois ele não volta atrás para o usarmos outra vez... As grandes divagações de toda a gente passam pelo tempo, é inevitável e até se torna repetitivo escrever sobre o assunto. Mas a verdade é que não me sai da cabeça de tempo a tempo querer que o meu tempo seja mais importante para mim. Quando tenho aqueles momentos que me embalam nos segundos e tornam tudo mais divertido é quando me lembro que todos os momentos deviam ser assim e em tudo que posso fazer para me voltar a encontrar com eles.
Estou disposta a reencontrar os sentidos, mesmo que para isso tenha de reavaliar a minha vida e os meus projectos. Que fazer? Queimar mais um ou dois anos da minha vida rumo a um destino de segurança incerto, ou arriscar uma nova procura que me assegure uma experiência mais vivida de mim própria. No meu juízo perfeito a segunda hipótese nem tem discussão! Infelizmente a vida dá-nos a volta conforme os seus interesses. Mas que vida? A que pensamos ser o natural processo de evolução: estudar, trabalhar, arranjar alguém para ficar ao nosso lado, talvez ter filhos e tentar ser feliz no meio disto tudo? Hedonismo é um extremo que ousamos tocar mas a que nunca nos entregamos completamente, nem quero porque sou demasiado inconstante e preciso de me segurar a alguns ramos fortes do que penso que me segura. "Do you ever felt you wanna stay and at the same time you wanted to go?", frase emblemática mas não posso deixar de repetir, de trocar a posição das palavras, e uma vez mais pensar e repensar... A indeterminação dos nossos desejos, a ansiedade de querer sentir mais, o medo de ficarmos encurralados no tempo, as mil possibilidades que temos e as que deixamos para trás e aquelas que não nos atrevemos olhar de frente...e aquela possibilidade que é esta que vamos vivendo, passageira e frágil. Conclusão: vou aprender a tocar piano.
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