Honka em Honkanak

Honkanak é uma criação longínqua do mundo de Honka, uma personagem que encarnei e por quem me deixei apaixonar.

domingo, novembro 05, 2006

"A vida parece-nos fácil quando se trata da vida dos outros"

Escolhi esta citação de um senhor de nome J.Normand que encontrei numa pesquisa ao acaso sobre o aborto na Wikipédia, para dar início a mais uma reflexão sobre este tema. Estava à procura de definições de aborto e alarguei a minha busca para outras como vida, morte, gravidez...enfim uma correlação que achei significativa para poder aclarar estas questões. Sobre a vida retirei uma frase que penso definir muito bem do que se trata afinal a vida: "Metafisicamente, a vida é um processo constante de relacionamentos". Que é a vida senão a relacionamento com os outros e connosco próprios, com os nossos pensamentos, crenças, interrogações... A vida é algo de complexo porque se tratam de relações com outros seres iguais ou diferentes, com os quais aprendemos a conviver e sobreviver.
Na questão do aborto estamos a lidar com várias pessoas com perspectivas distintas do que é a sua vida, do que esta significa, das suas dificuldades e maravilhas. Apercebemo-nos de que a vida tem um valor questionável de acordo com as circunstâncias em que é vivida. Isso entristece-me porque algo que para mim é tão importante pode ser levado rapidamente à banalidade em outros contextos.
Hoje discute-se a vida com argumentos de várias naturezas e existem diversas situações em que não conseguimos ser coerentes com aquilo em que acreditamos, não conseguimos traçar a distinção entre o bom e o mau, e embaraçamo-nos em discussões entre o bom e o melhor, o mau ou o pior, o que deveríamos fazer e o que gostaríamos que fosse feito. Fala-se muito na liberdade de escolha, a liberdade de escolher por uma vida ou pela interrupção dessa vida, a escolha entre a identidade e a estabilidade de uma mulher e o desafio de uma nova vida e dificuldades que isso apresenta.
Não é fácil viver nos dias de hoje, tal como noutros tempos. Nem sempre temos as melhores condições que gostaríamos de ter para um filho nosso, nem sempre a vida se encaminha pelo sentido que esperávamos. Saberemos nós mesmo qual o caminho que ela vai tomar com certeza?
A vida tem um poder próprio, a criação em liberdade de criar. A vida é tão poderosa e frágil ao mesmo tempo que nos obriga a um respeito e desperta um receio humano, o medo de não saber como controlá-la, o que fazer a seguir... O aborto tem vindo a ganhar um papel de alternativa a essa medo, um remédio aos nossos problemas e dificuldades. É apresentado como um meio de ganharmos controlo sobre a vida, sobre a nossa vida e sobre a vida que queremos ou não criar. É a liberdade de escolha de que todos falam: a liberdade de nos libertarmos de uma tamanha responsabilidade como a de dar mais uma vida a este mundo com a qual depois não nos sabemos relacionar.
As relações humanas sempre foram complexas e delicadas. Vivemos constantemente em conflitos interiores e exteriores. O que nos torna humanos é a capacidade que temos vindo a desenvolver ao longo dos tempos de criar sociedades que nos permitam relações estáveis e de respeito mútuo. Não tem sido tarefa fácil, tem sido uma luta constante.
Falar, discutir, reflectir sobre temáticas como o aborto, a eutanásia, a pena de morte, é mais uma batalha entre outras para o Homem. Confrontar-se com aquilo que é na sua natureza, com a dicotomia entre vida e morte, bem e mal, absoluto e relativo.
Nas discussões acontecem quebras de diálogo quando as palavras e formas de expressão ganham significados diferentes de acordo com a posição tomada. Um mesmo discurso pode fazer todo o sentido do Mundo para uns ou pelo contrário causar perplexidade e polémica para outros.
Numa outra pesquisa que andei a fazer pela internet, naquelas horas vagas em que deabulamos por informação de todas as direcções, peguei num desses exemplos, em que um discurso aparentemente inocente e de natureza informativa à prática de aborto se tornou para mim num "jogo" de palavras com sentidos a retirar completamente diferentes do que se queria transmitir. Á medida que fui lendo não pude deixar de ir anotando ao lado a sensação que me dava ao ler aquelas palavras. Aproveito agora para partilhar esse texto porque me parece interessante as formas diferentes de se encarar uma mesma realidade. O meu tom é crítico pelas minhas convicções claro, mas gostaria de sublinhar que, mais uma vez, o grande problema da Humanidade está na forma distinta como cada um pensa e nestas quebras de diálogo, nas quebras de relações, nas quebras que não permitem a todos terem valores e ideiais iguais. Assim é a Humanidade. O futuro? Como posso eu saber? Posso desejar, imaginar, mudar, tentar, lutar, pensar...mas não sei.
Este é o texto de uma ONG que se diz protectora dos direitos das mulheres (Women on Waves) e defende a prática do aborto:

"Nós apoiamos o aborto legal e seguro."

SEGURO? Ora vejamos se é assim tão seguro…

"Se você mora num país onde não há acesso ao aborto seguro, a forma mais segura de realizar um aborto até a nona semana de gravidez é utilizando dois medicamentos chamados Mifepristone (também conhecido como RU-486 ou Mifeprex, a pílula do aborto, mifegyne) e Misoprostol(também conhecido como Cytotec ou Mibetec ou Cyprostol ou Misotrol ou Arthrotec ou Oxaprost)." Estes remédios são destinados a curar cólicas renais.A gravidez é uma doença? Deve ser tratada? Estamos doentes quando temos uma gravidez inesperada ou não planeada? (sublinhe-se que mais segura significa que não é definitivamente segura, é sempre um risco a que a mulher se submete)

"O aborto medicinal realizado desta forma tem uma taxa de sucesso de 97%."Taxa de sucesso?! O sucesso na medicina está em salvar vidas, promover a vida humana.

"Se você mora num país onde não há acesso ao aborto seguro e você deseja realizar um aborto medicinal com Mifepristone e Misoprostol, por favor consulte o site Women on Web Este é um serviço de ajuda ao aborto medicinal online que te direcionará a um médico que poderá te fornecer o aborto medicinal."

O aborto medicinal fornece-se sem olhar aos princípios deontológicos que conduzem a actividade de um médico: a protecção da vida.Existe algo que se pareça a aborto medicinal? tal definição escapa à definição correcta totalmente oposta nos seus objectivos.Guiamos o futuro da nossa saúde e de uma nova vida através de um manual na Internet? Chama-se em linguagem internética: segurança.

"Se o aborto legal e seguro não for possível e o Women on Web não puder te ajudar, é possível uma mulher fazer um aborto até nona semana de gravidez utilizando apenas o medicamento chamado Misoprostol. Neste site nós fornecemos informações sobre o Misoprostol"

Que precauções devem ser tomadas? Como os medicamentos funcionam? Qual a melhor dose? O que a mulher deve esperar, como tomar os medicamentos e as possíveis complicações? É a isto que se chama segurança?

"Nós também fornecemos informações científicas. Utilizando apenas o Misoprostol a taxa de sucesso de abortos é de 80%."

Continuam a existir os 20%, alguém sabe o que aconteceu nesses casos? Quantas mulheres ficaram estéreis e nunca mais puderam rectificar uma decisão da qual se arrependem mais tarde?

"A mulher nunca deve auto-induzir o aborto se viver num país onde pode fazer um aborto legal e seguro. Nesse caso, deve ir ao médico, pois o aborto será realizado de modo mais adequado e seguro por um médico experiente "
Existem formas adequadas para pôr termo à vida? Aquela vida nunca pediu para não existir, virgem de qualquer forma de sofrimento ou maldade. A experiência adverte para as consequências negativas de prosseguir com um aborto, ou como se diz, interrupção voluntária da gravidez, o que não é mais do que violentar a gravidez.

"Divulgamos esta informação porque, nos países onde o aborto é ilegal, as mulheres tentam muitas vezes abortar usando métodos perigosos." A grande preocupação está em saber porque razão uma mulher vê como única alternativa ter de abortar, mesmo contra a sua vontade, mesmo tendo medo e sentindo-se sozinha nesta decisão. Porque é que uma mulher cai no desespero de pôr em risco a sua própria vida? A sua morte ou a morte do feto não são soluções, são desconhecimento e falta de acesso a opções certas.

"Algumas mulheres tentam mesmo abortar introduzindo objectos sujos ou pontiagudos no útero, ou agredindo-se com socos na barriga.Isto é muito perigoso e nunca deve ser feito, pois existem sérios riscos de danos internos, infecções, fortes hemorragias, e a mulher pode mesmo morrer."
É preciso evitar este tipo de situações através do planeamento familiar e do acompanhamento de cada caso com o máximo de cuidado e apoio total. A mulher não tem de viver o seu drama sozinha.

"Para muitas mulheres pôr termo a uma gravidez é uma decisão difícil.Não existindo profissionais de saúde com quem as mulheres possam falar acerca deste método e de outras alternativas, aconselhamos a que converse sobre o assunto com um familiar ou amigo.Em especial, aconselhamos às mais jovens que falem com os pais sobre a sua decisão e todo o procedimento."

Há pessoas dispostas a ouvir e a ajudar. Não é caso para ter vergonha ou para nos isolarmos. Não estamos sozinhas. É sempre uma decisão difícil porque vai contra todo o valor que damos à vida, às nossas vidas.

Em seguida vem a pequena explicação dada por esta ONG e uma outra que encontrei do que acontece quando se recorre a estes métodos. Parece-me extremamente redutora a advertência desta ONG supostamente tão preocupada com o bem estar da mulher.Acho que os factos falam por si próprios e a imagem é terrível, prefiro nem comentar o que deve ser o sofrimento de passar por uma experiência desta natureza:

"O Misoprostol causa contracções no útero. Como consequência, o útero expele o produto da gravidez. A mulher pode ter dores fortes, hemorragia mais intensa do que na menstruação normal, náuseas, vómitos e diarreia. A mulher corre o risco de hemorragia muito forte; se assim acontecer, tem de ser assistida por um médico.
A experiência do aborto com Misoprostol pode ser comparada à do aborto espontâneo.
Os riscos de um aborto induzido pelo Misoprostol são semelhantes aos de um aborto espontâneo.Disponibilizamos de seguida alguma informação importante e que deve ser lida por todas as mulheres que desejam induzir o aborto com o Misoprostol."

"O aborto químico, também conhecido como aborto médico ou aborto não-cirúrgico é aplicável apenas no primeiro trimestre da gravidez e equivale a 10% de todas as interrupções voluntárias da gravidez nos Estados Unidos e Europa. Consiste na administração de fármacos que provocam a interrupção da gravidez e expulsão do embrião. Estudos demonstram que quando usada nos primeiros 49 dias de gestação cerca de 92% das mulheres que recorrem ao aborto químico completam a interrupção da gravidez sem necessidade de intervenção cirúrgica. Nos casos de falha do aborto químico é necessária aspiração do útero para completar a interrupção da gravidez cirurgicamente.
A partir do segundo mês de gestação, os métodos mais comuns e corriqueiros utilizados por profissionais para provocar o abortamento são a curetagem e a aspiração uterina.
Para fazer a curetagem, o médico, após alargar a entrada do útero da paciente, introduz dentro dela a chamada cureta, que é um instrumento cirúrgico cortante, em forma de colher. Servindo-se da cureta, um médico habilidoso pode ir cortando o feto em pedaços, e retirá-los um a um de dentro do útero. Além do feto, também a placenta deve ser retirada e cortada. Em geral, aplica-se anestesia local, de modo que a paciente permanece consciente, ainda que tenha de permanecer em uma posição que a impede de observar a operação. Após concluído o procedimento, o médico deve remontar os pedaços do corpo do feto em uma mesa à parte, para certificar-se de que não restou pedaço algum no útero da gestante.
O procedimento de aspiração uterina distingue-se da curetagem porque, em vez de o médico introduzir a cureta no útero da gestante e retalhar manualmente o feto, ele introduz uma cânula de vidro, cujas extermidades internas são cortantes. A cânula está acoplada a um aparelho de vácuo e, quando o vácuo é produzido, o feto é sugado pelo equipamento e vai sendo cortado em pedaços à medida em que seus membros passam pela cânula. Como a cabeça do feto é muito grande para ser sugada pelo aparelho, o médico deve primeiro esmagá-la manualmente, antes do fim do procedimento, para que possa ser retirada pelo aparelho de sucção.
Em ambos os procedimentos deve o médico certificar-se rigorosamente de que não restou pedaço algum do feto no útero da paciente. Qualquer pedaço do feto que permanecer no interior do útero, após a interrupção da gravidez, desencadeia uma reação inflamatória imediata. Esta inflamação aumenta e se agrava progressivamente enquanto estes pedaços permanecerem dentro do útero. Sendo o útero um órgão intensamente vascularizado durante a gestação, o pus acumulado em decorrência da inflamação acaba por penetrar paulatinamente na corrente sanguínea da gestante, o que provoca septicemia ou infecção generalizada, que é uma das causas de morte materna por abortamento. O único recurso capaz de vencer a septicemia é a retirada imediata do resto fetal ainda presente no útero da mulher e uma forte dose de antibióticos. Se a septicemia já estiver bastante avançada, far-se-á necesária a imediata internação da paciente em uma unidade de terapia intensiva (UTI)."

Valerá assim tanto a pena sacrificar uma vida? (e custa-me posicionar esta pergunta desta forma!)